A síndrome do canal cárpico é uma das patologias neurológicas mais comuns relacionadas ao ambiente de trabalho e à utilização prolongada das mãos. Esta condição afeta milhares de pessoas em Portugal, sobretudo aquelas que realizam tarefas repetitivas com os pulsos, como digitar, costurar ou manusear ferramentas. A compressão do nervo mediano no interior do canal cárpico gera sintomas muitas vezes incapacitantes, como dor, formigueiro e até perda de força na mão afetada. Neste artigo, vamos explorar com profundidade o que é a síndrome do canal cárpico, quais as suas causas, sintomas, formas de diagnóstico, tratamentos disponíveis e estratégias de prevenção eficazes.
O que é a Síndrome do Canal Cárpico e como se desenvolve?
A síndrome do canal cárpico ocorre quando o nervo mediano — que percorre o braço até à mão — é comprimido na passagem pelo canal cárpico, uma estrutura anatómica estreita localizada no punho. Este canal é delimitado por ossos e pelo ligamento transverso do carpo, e além do nervo mediano, por ele também passam os tendões flexores dos dedos.
Esse nervo é responsável pela sensibilidade da parte palmar do polegar, indicador, dedo médio e metade do anelar, assim como pelo controlo motor de alguns músculos da mão. Quando há uma pressão exagerada sobre essa área, seja por inchaço, inflamação ou aumento do volume dos tecidos que o atravessam, o nervo sofre compressão, originando os sintomas típicos da doença.
As principais causas e fatores de risco incluem:
- Movimentos repetitivos e uso excessivo das mãos: especialmente em contextos laborais, como digitação constante, trabalho manual repetitivo, uso de ferramentas vibratórias, etc.
- Posturas inadequadas: manter os punhos curvados por longos períodos enquanto se utiliza um teclado, rato ou instrumentos manuais.
- Alterações hormonais: como ocorre durante a gravidez ou menopausa, que retêm líquidos e aumentam a pressão dentro do canal.
- Condições médicas associadas: artrite reumatoide, diabetes, hipotireoidismo e obesidade, entre outras, que podem reduzir o espaço disponível ou afetar a circulação no nervo.
- Traumas: fraturas no punho ou deslocamentos que alteram a estrutura anatómica do canal cárpico.
Os sintomas mais comuns incluem:
- Formigueiro ou dormência nos dedos, especialmente à noite;
- Dor irradiada para o braço e ombro;
- Fraqueza na mão e dificuldade em agarrar objetos ou realizar movimentos finos;
- Sensação de inchaço nos dedos, mesmo que eles aparentemente não estejam inchados;
- Nos casos mais avançados, atrofia dos músculos da base do polegar.
O diagnóstico é geralmente clínico, baseado nos sintomas e exames físicos feitos por um médico. Testes específicos como o teste de Phalen e o teste de Tinel, que provocam sinais característicos ao pressionar ou dobrar o punho, podem ajudar a confirmar a suspeita. No entanto, pode ser necessário fazer exames complementares, como a eletroneuromiografia, que avalia a condução dos impulsos elétricos no nervo, confirmando a existência e a gravidade da compressão.
Tratamento e Prevenção da Síndrome: o que pode ser feito?
O tratamento da síndrome do canal cárpico depende do grau de gravidade e da duração dos sintomas. Em casos leves ou moderados, medidas conservadoras são geralmente eficazes, enquanto situações mais graves podem exigir cirurgia. O principal objetivo do tratamento é aliviar a pressão sobre o nervo mediano, aliviar os sintomas e restaurar a função normal da mão e do punho.
Tratamentos conservadores incluem:
- Imobilização com tala: usadas especialmente à noite para manter o punho numa posição neutra, evitando a flexão durante o sono;
- Medicação: anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) podem ajudar a reduzir a inflamação e aliviar a dor leve. Injeções de corticosteroides são também uma opção para reduzir rapidamente o inchaço e a pressão sobre o nervo;
- Fisioterapia e exercícios: ajudam a melhorar a mobilidade, fortalecer a musculatura do punho e a corrigir a postura;
- Alterações ergonómicas no local de trabalho: mudar o posicionamento do teclado, rato e cadeira, utilizar apoios de pulso e fazer pausas regulares durante tarefas repetitivas;
- Terapias complementares: como acupuntura ou uso de ortóteses com aplicação de frio/calor, podem ser benéficas em alguns casos.
Quando estas medidas falham ou os sintomas são severos e persistentes, pode ser recomendada a cirurgia de libertação do canal cárpico. Este procedimento envolve o corte do ligamento transverso do carpo, aliviando assim a pressão sobre o nervo mediano. É uma cirurgia minimamente invasiva, com bons resultados e recuperação geralmente rápida, especialmente quando feita antes de haver danos permanentes no nervo.
Prevenir o surgimento da síndrome do canal cárpico é possível através de estratégias que melhorem os hábitos diários e posturas, particularmente em contextos laborais. Algumas dicas práticas incluem:
- Fazer pausas frequentes durante o trabalho manual ou em frente ao computador;
- Realizar alongamentos dos dedos, pulsos e antebraços regularmente;
- Evitar pressionar demasiado os punhos contra superfícies duras, como a mesa ou apoio do teclado;
- Manter uma boa postura corporal e ergonómica no trabalho;
- Adotar ferramentas e materiais que minimizem o esforço repetitivo ou prolongado.
Uma deteção precoce e uma abordagem terapêutica adequada podem evitar sequelas e melhorar significativamente a qualidade de vida dos doentes. Por isso, é fundamental estar atento aos primeiros sinais e procurar orientação médica quando os sintomas se manifestarem.
Em suma, a síndrome do canal cárpico é uma condição muito mais comum do que se imagina, e embora possa ser limitante, possui tratamento eficaz − desde que diagnosticada atempadamente. Conhecer os fatores de risco, os sintomas e saber como adaptar o ambiente de trabalho são passos fundamentais para prevenir o seu aparecimento. Em casos mais graves, a cirurgia representa uma solução segura e com elevadas taxas de recuperação. Ao integrar hábitos ergonómicos e melhorar a consciência corporal nas atividades diárias, é possível manter os punhos saudáveis e evitar complicações futuras associadas a esta patologia.

