O cancro na boca é uma doença grave que pode afetar diferentes partes da cavidade oral, incluindo os lábios, gengivas, língua, céu da boca, parte interna das bochechas e até a garganta. Apesar de não ser tão falado como outros tipos de cancro, como o da mama ou da próstata, a sua incidência tem vindo a aumentar nos últimos anos em Portugal. Detetar precocemente o cancro oral é essencial para aumentar as hipóteses de cura, sendo por isso fundamental conhecer os seus sinais, as causas associadas e os principais métodos de prevenção. Neste artigo, vamos explorar em profundidade o que é o cancro na boca, como se manifesta e quais os passos a tomar para preveni-lo e tratá-lo adequadamente.
O que é o cancro na boca e quais os fatores de risco
O cancro na boca, também conhecido como câncer oral, é um tipo de neoplasia maligna que se desenvolve nos tecidos da cavidade oral. A forma mais comum é o carcinoma de células escamosas, que representa mais de 90% dos casos. Este tipo de cancro pode afetar qualquer área da boca, embora seja mais frequente na língua e no pavimento da boca (a zona por baixo da língua).
Existem diversos fatores de risco associados ao desenvolvimento do cancro oral, sendo alguns deles evitáveis. Entre os principais destacam-se:
- Tabagismo: O consumo de tabaco em qualquer das suas formas – cigarros, charutos, cachimbo ou tabaco de mascar – é o principal fator de risco. Estima-se que mais de 80% dos casos estejam ligados ao uso do tabaco.
- Consumo de álcool: A ingestão exagerada e frequente de bebidas alcoólicas aumenta significativamente a probabilidade de desenvolver cancro na boca, especialmente quando associada ao tabagismo.
- Má higiene oral e próteses mal adaptadas: A presença persistente de traumatismos nas mucosas da boca ou gengivas pode contribuir para o desenvolvimento de lesões malignas.
- Exposição ao sol: A exposição prolongada e sem proteção aos raios ultravioleta é um fator de risco para o cancro nos lábios.
- Infecção pelo vírus do papiloma humano (HPV): Algumas estirpes deste vírus têm vindo a ser associadas a um número crescente de casos de cancro oral, sendo a transmissão geralmente feita por via sexual.
- Idade e género: Homens acima dos 50 anos apresentam uma maior prevalência, embora casos em mulheres e em idades mais jovens estejam em aumento.
É importante referir que a combinação de fatores como o uso de tabaco e álcool potencia sobremaneira o risco, havendo estudos que indicam que a combinação dos dois multiplica por mais de 30 as probabilidades de desenvolvimento do cancro oral.
Além disso, indivíduos com histórico de cancro no trato aerodigestivo superior (garganta, laringe, esófago) têm também maior probabilidade de desenvolver um segundo tumor localizado na boca.
Sintomas, diagnóstico e tratamento do cancro na boca
O cancro oral pode manifestar-se de forma subtil nas suas fases iniciais, passando muitas vezes despercebido ou confundido com problemas menores da cavidade oral. No entanto, conhecer os sintomas é crucial para detetar a doença precocemente.
Os sinais e sintomas comuns incluem:
- Feridas na boca que não cicatrizam no prazo de 2 a 3 semanas;
- Manchas vermelhas ou brancas na mucosa da boca;
- Dor persistente na garganta ou sensação de corpo estranho;
- Dificuldade em engolir ou em mover a língua ou mandíbula;
- Inchaço ou caroços visíveis na língua, gengivas, bochechas, palato ou garganta;
- Perda de sensibilidade em determinadas zonas da boca;
- Mau hálito persistente ou sem causa aparente;
- Alterações na voz sem explicação médica clara.
É fundamental procurar um médico dentista ou otorrinolaringologista ao mínimo sinal ou sintoma persistente. O diagnóstico passa geralmente pela observação clínica detalhada, seguida de realização de uma biópsia – procedimento em que se recolhe uma amostra do tecido suspeito para análise laboratorial.
O tratamento do cancro na boca depende do estádio da doença, da localização do tumor e da saúde geral do paciente. As principais modalidades incluem:
- Cirurgia: É geralmente o tratamento de primeira linha. Envolve a remoção do tumor e, em alguns casos, de uma parte dos tecidos circundantes e gânglios linfáticos afetados.
- Radioterapia: Pode ser utilizada como complemento à cirurgia ou, em alguns casos, como tratamento principal, especialmente em tumores menores ou quando a cirurgia não é viável.
- Quimioterapia: Usada em casos mais avançados ou quando o cancro se espalhou para outras zonas. Pode ser associada à radioterapia para potenciar os efeitos.
- Imunoterapia e terapias alvo: Em estádios mais avançados da doença, estas abordagens mais recentes podem ser indicadas, dependendo das características moleculares do tumor.
O sucesso do tratamento está diretamente relacionado à precocidade do diagnóstico. Quando detetado numa fase inicial, o cancro oral pode ter uma taxa de sobrevivência superior a 80%. Por outro lado, quando diagnosticado tardiamente, esta taxa pode descer para menos de 50%.
Após o tratamento, o acompanhamento médico é fundamental para detetar possíveis recidivas e orientar o paciente na reabilitação oral e na recuperação da qualidade de vida, que pode ser consideravelmente afetada, principalmente nos casos em que houve remoção de partes significativas da boca ou problemas na fala, deglutição e estética facial.
Prevenção e a importância da vigilância regular
A prevenção do cancro oral passa, em grande medida, pela adoção de um estilo de vida saudável e pela realização de consultas regulares ao dentista, mesmo quando não existem sintomas aparentes.
Algumas medidas fundamentais de prevenção incluem:
- Evitar o consumo de tabaco sob todas as formas;
- Moderação no consumo de bebidas alcoólicas ou, idealmente, a sua eliminação;
- Manter uma higiene oral rigorosa e efetuar consultas periódicas ao médico dentista;
- Utilizar protetor labial com filtro solar em casos de exposição solar prolongada;
- Manter uma alimentação equilibrada, rica em vegetais, frutas e antioxidantes;
- Vacinar-se contra o HPV e praticar sexo seguro;
- Estar atento a alterações na boca e procurar ajuda médica ao mínimo sinal duvidoso.
Além disso, os profissionais de saúde oral desempenham um papel essencial na deteção precoce do cancro. Durante uma consulta de rotina, o dentista pode identificar lesões suspeitas mesmo antes de o paciente sentir qualquer desconforto. Assim, é recomendável efetuar uma consulta anual, especialmente a partir dos 40 anos ou se o indivíduo estiver incluído em grupos de risco.
Portugal tem assistido a um esforço crescente na sensibilização para o cancro oral por parte das Ordens profissionais e do Serviço Nacional de Saúde, mas ainda há um longo caminho a percorrer na deteção precoce e no conhecimento da população sobre esta doença silenciosa.
Em suma, o cancro na boca é uma condição grave, mas altamente evitável e tratável quando identificado a tempo. A informação clara, os hábitos saudáveis e as consultas regulares são a melhor arma para combater esta forma de cancro.
O cancro na boca é uma realidade que não pode ser ignorada. Apesar da sua gravidade, trata-se de uma doença com elevadas possibilidades de cura quando detetada precocemente. Ao adotar estilos de vida saudáveis, evitar substâncias de risco como o tabaco e o álcool, e visitar regularmente o dentista, é possível reduzir drasticamente as hipóteses de desenvolver este tipo de cancro. Estar atento a sinais suspeitos e procurar acompanhamento médico imediato são passos cruciais para garantir a deteção precoce. Com maior informação e prevenção, podemos minimizar o impacto do cancro oral na população portuguesa.

