AS CAPACIDADES DE UM RECÉM NASCIDO

Como é e quais as capacidades de um recém-nascido? Para a mãe, é certamente o bebé mais lindo do mundo. Mas há outras coisas que vai querer saber sobre este minúsculo, mas fantástico ser.

O bebé mais lindo do mundo! É como o seu bebé lhe vai parecer. O mais certo é ter: uma cabecita careca e pontiaguda da viagem espremida pelo canal vaginal (aqui os bebés nascidos por cesariana ganham alguns pontos), a cara e os olhinhos papudos devido a todas as compressões sofridas; a cabeça com partes moles (moleirinha) e espacinhos que parecem estar a pulsar quando se tocam (fontanelas – ossos do crânio do bebé que não se encontram ainda solidificados, para que o cérebro possa crescer); talvez tenha pelinho por todo o lado (lanugo), um cabelinho muito fininho e aveludado que ajuda até terem a camada de “foca” necessária (gordura), para se manterem quentinhos; genitais um bocadinho XL, que tem que ver com as doses extra de hormonas femininas que recebeu de si, antes do nascimento e, finalmente, uma pele super-macia, embora enrugadita, de tom mais ou menos avermelhado (nos primeiros dias, as mãos e os pezitos parecem um pouco azulados mas, à medida que a circulação do bebé melhora, o aspeto da pele vai ficando cada vez mais uniforme).
Os recém-nascidos mudam muito rapidamente a sua aparência e, ao fim de dois ou três dias de tanto o estudar, já saberá de cor todas as sua marcas e feições.

Nos primeiros momentos, se o olhar nos olhos, ficará surpreendida como ele está bem acordado, ao contrário de si, que deve estar desejosa de fechar os olhos! Os recém-nascidos, na primeira hora de vida, ficam mais despertos do que nos dias seguintes. Isto porque é muito importante o momento em que, olhos nos olhos, se dá uma conexão de intenso afeto entre ambos, a que chamamos “bonding”, construído ao longo da vida entre os pais e uma criança (o “bonding” começa muito cedo e tem uma importância vital para o desenvolvimento de uma personalidade saudável).
Nestes momentos, o contacto pele com pele promove o desenvolvimento deste laço, para além de facilitar a amamentação, já que para alguns bebés o processo não é imediato e a temperatura, o toque da sua pele e o cheiro do leite ajudam-nos a iniciar o processo.

O que vai naquele cabecinha?
Mas para além disso quando olha para ele muitas vezes pergunta-se: em que estará a pensar? O que irá dentro da sua cabecinha? Pois ficará surpreendida quando souber que por trás daqueles olhinhos está uma máquina sofisticadíssima a desenvolver-se à velocidade da luz a que chamamos cérebro! E de que ele precisa de todo o afeto da mãe e pai para que esse desenvolvimento se dê! Mesmo que logo após o nascimento esteja demasiado cansada para reparar, o seu amor por este novo ser tem um profundo impacto na sua mente em desenvolvimento!

Ora vejamos, os bebés não são “tábuas rasas” desprovidos de sentimentos e pensamentos como durante muitos anos a ciência médica e psicológica os descreveu. As neurociências e os seus elaborados equipamentos têm permitido desmistificar esta ideia, trazendo à luz tudo aquilo que os bebés sabem… e digamos que em termos de desenvolvimento de pesquisa científica “ainda a procissão vai no adro” e muito mais será descoberto acerca destes fantásticos seres, os bebés recém-nascidos.

Hoje, sabemos que os bebés recém-nascidos são seres sociais desenhados para comunicar e perceber pistas sociais humanas importantes para o seu desenvolvimento. Pense neles como um computador ultrassofisticado com um equipamento de base que lhe permite serem guiados para aprender coisas essenciais acerca de… pessoas, comunicação e o mundo!

O que fazem?
Eis algumas das capacidades sociais dos recém-nascidos que recentes investigações um pouco por todo o mundo nos trazem, iluminando este campo do saber tão… recém-nascido.

Os recém-nascidos reconhecem a voz das suas mães e adoram “mamanhês”! Mesmo dentro da barriga das suas mães, os bebés já conseguem ouvir a voz da sua mãe e por isso a reconhecem após o nascimento e não só a reconhecem como a preferem em relação a outras, uma vez que esta tem efeitos calmantes, suavizando as suas frequências cardíacas em bebés prematuros por exemplo. E sabe aquele “mamanhês”, que todas as mães descobrem que afinal sabem mesmo sem ninguém lhes ter ensinado? Os recém-nascidos também o preferem porque este mamanhês tem características muito especiais, é mais lento, mais melódico e parece ajudar os bebés a perceber o tom emocional por trás do que é dito, ajudando-os também a desenvolver a fala.

Os recém-nascidos portugueses preferem o Português! Pois é, pelo facto de os bebés ouvirem a sua língua nativa enquanto estão dentro do útero, preferem, depois de nascer ouvir o mesmo tipo de características rítmicas e únicas de cada uma delas. Mesmo que não perceba o significado do que está a dizer, ele consegue captar a emoção com que o diz: raiva, felicidade, tristeza, ansiedade, etc. É uma espécie de kit de sobrevivência que traz consigo: ser capaz de ficar sintonizado com aquilo que a mãe está a sentir pelo tom da sua voz, a posição da sua boca, o tipo de respiração, o toque da sua pele e, acima de tudo, o brilho dos seus olhos.

O seu recém-nascido aprende rápido, mesmo sem compreender o significado das palavras e sem conseguir falar. Desde o nascimento que ele tenta sintonizar a frequência das palavras e o tipo de sons das frases, em particular os da sua voz que ele já conhece. Para além disso, o bebé é o melhor observador dos pais, por isso ele através de si consegue aprender coisas mais complexas como confiança, amor, causa-efeito.

Os recém-nascidos sabem ler… faces! Veja só do que são capazes bebés com apenas algumas horas ou dias: em primeiro lugar mostram uma preferência inequívoca em olhar para faces do que para outra coisa qualquer, lembre-se que eles são cientistas a explorar o mundo e nós seremos os ratinhos de laboratório que eles vão estudar com muita atenção! A visão de um recém-nascido não é como a nossa, é um pouco mais turva, as cores confundem-se um pouco e é claramente mais nítida nas zonas limítrofes do que no centro, mas mesmo assim, passado poucas horas após o nascimento, eles mostram uma clara preferência em olhar para a face dos pais do que para faces de estranhos. E como nos estudam tão bem não será estranho pensar que eles preferem caras com expressões de diferentes sentimentos a “caras de tacho” ou melhor dizendo neutras. Para além disso a sua atenção volta-se com mais facilidade para as coisas que eles veem que nos estão a despertar a atenção. Se eu seguir o seu olhar, consigo perceber para onde está a olhar, qual será a sua motivação e até imaginar o que vai fazer a seguir. Por isso, esta capacidade dos recém-nascidos seguirem o olhar é uma ferramenta muito importante no seu processo de descoberta do mundo. Leva os bebés a prestarem atenção ao que é importante aprender e ajuda-os a perceberem as mentes das outras pessoas.

Os recém-nascidos já demonstram empatia. Já deve ter reparado que quando chora um bebé os outros que estiverem na sala vão provavelmente desatar a chorar também… mas não se engane. Isto não é um processo de imitação pura, mas sim o desenvolvimento de uma competência extraordinária: a de empatia pelos outros, porque diferentes estudos conseguiram demonstrar que os bebés choram de modo mais aflitivo se “sentirem” que outro bebé recém-nascido está em perigo, o mesmo não acontecendo se o som que estavam a ouvir era de um bebé mais velho (supostamente com maior capacidade de se defender).

Os recém-nascidos não falam mas dizem muita coisa! Quando o seu bebé fala, seja um bom ouvinte – olhe para ele e responda de volta. Ninguém gosta de falar para o boneco… os bebés também não, é mais provável que ele fale quando lhe está a prestar atenção.

Os recém-nascidos têm diferentes expressões faciais . O bebé pode não ser capaz de falar, mas as suas expressões faciais dizem muita coisa – apertam os lábios, levantam as sobrancelhas, abrem ou apertam os olhos, franzem a testa… Com estas expressões, o seu bebé pode estar a tentar transmitir-lhe alguma coisa – talvez tenha fome ou necessite que lhe mude a fralda ou simplesmente esteja a explorar as suas capacidades recém-adquiridas.
Os bebés recém-nascidos vocalizam sons espontaneamente, de forma a comunicarem com os seus pais, especialmente quando estão numa relação. Desde a primeira semana que o seu bebé faz sons, como “aah”, “hum” para expressar os seus sentimentos, imita sons e sorri!

Quando menos esperar, no final do primeiro mês de esgotamento total, o seu bebé vai compensá-la com o seu primeiro sorriso! Em situações sociais com bebés ou adultos, demonstram a sua satisfação e excitação através de movimentos corporais. Mas, não se esqueça que durante algum tempo uma das formas privilegiadas de comunicarem é o choro. Como fica difícil dizer o que sentem ou o que precisam de outra forma, os bebés fazem-no através da única forma que sabem e conseguem – chorando. E por falar em choro, sabia que os recém-nascidos conseguem distinguir a diferença nos sons do seu choro, do choro dos outros bebés recém-nascidos e do choro de bebés mais velhos?

O PAPEL DOS PAIS

O bebé usa os seus sentidos para tentar perceber o que se passa consigo e à sua volta e vai criando conhecimento a cada minuto que passa – vai criando a sua versão do mundo pela forma como lhe respondem quando ele chora, quando se enamora de si olhando nos seus olhos, quando tem fome, etc.
O que significa poder ficar com a ideia de que o mundo é um lugar onde as suas necessidades são acolhidas ou um sítio onde se estiver angustiado e lhe apeteça chorar, saiba que o pode fazer sozinho à vontade, sem esperar que alguém o venha consolar.

Todas estas competências sociais do cérebro humano nos primeiros dias faz-nos refletir no nosso papel enquanto pais e cuidadores: afinal não estamos cá só para dar de mamar e mudar fraldas. O nosso papel é de vital importância para o desenvolvimento cerebral dos nossos bebés e, mais ainda, a forma como vemos estes bebés determina o quanto estamos em sintonia com o seu desenvolvimento e o quanto correspondemos às suas expectativas enquanto bebés que esperam de nós um afeto responsivo e um mundo desafiante à altura das suas capacidades.