Intercalar Brufen e Benuron em Crianças: Guia Seguro e Prático

Quando se trata de gerir febres ou dores em crianças ou adultos, uma das práticas mais comuns é alternar medicamentos como o Brufen (ibuprofeno) e o Benuron (paracetamol). Esta abordagem tem sido frequentemente recomendada por profissionais de saúde em situações específicas, mas é essencial compreender os fundamentos clínicos e farmacológicos que a sustentam, bem como os potenciais riscos se não for feita corretamente. Ao longo deste artigo, vamos explorar em detalhe quando e como intercalar Brufen e Benuron, quais os benefícios e precauções a ter em conta, e como garantir a segurança da medicação, especialmente em crianças.

Diferenças entre Brufen e Benuron e as suas aplicações clínicas

Antes de compreendermos por que e como se pode intercalar Brufen com Benuron, é crucial conhecer as diferenças fundamentais entre estes dois medicamentos.

Brufen é o nome comercial do ibuprofeno, um anti-inflamatório não esteroide (AINE). Além de ser eficaz na redução da febre (antipirético), também possui propriedades analgésicas (reduz dor) e anti-inflamatórias (reduz inflamação), tornando-o útil para condições como dores musculares, enxaquecas, artrites e inflamações locais.

Benuron, por outro lado, é o nome comercial do paracetamol (ou acetaminofeno em alguns países). É um analgésico e antipirético, mas não tem ação anti-inflamatória. É geralmente mais bem tolerado pelo estômago do que o ibuprofeno e é muitas vezes o primeiro medicamento recomendado para baixar a febre, especialmente em crianças pequenas.

As diferenças entre ambos estendem-se também à sua metabolização e potenciais efeitos secundários. O ibuprofeno exige uma atenção especial em pessoas com problemas gástricos, renais ou antecedentes de úlceras, enquanto o paracetamol exige cuidado com a dose total diária, devido ao seu potencial hepatotóxico, principalmente em casos de sobredosagem.

Assim, a decisão sobre quando usar um ou outro — ou intercalá-los — deve ser feita com base numa avaliação clínica, considerando a natureza da febre ou dor, a idade do paciente e o histórico de saúde.

Quando e como intercalar Brufen e Benuron em segurança

A prática de intercalar Brufen com Benuron é muitas vezes recomendada para melhor controlo da febre persistente, especialmente em crianças pequenas, quando um só medicamento não é suficiente para manter a temperatura sob controlo durante um período prolongado. Também pode ser usada em casos de dores intensas que não se resolvem com um só tipo de analgésico.

O princípio por detrás do intercalamento baseia-se no facto de o ibuprofeno e o paracetamol terem mecanismos de ação diferentes e serem metabolizados por vias distintas no organismo. Isso permite que ambos sejam usados dentro das suas doses recomendadas sem um risco acrescido de sobrecarga hepática ou renal, desde que administrados corretamente.

Regras básicas para intercalar:

  • Intervalo mínimo entre administrações do mesmo medicamento: 6 horas para o paracetamol e 6 a 8 horas para o ibuprofeno.
  • Exemplo prático: Se administrar Benuron às 12h, pode administrar Brufen às 15h, e voltar a dar Benuron às 18h, mantendo sempre um intervalo de pelo menos 3 horas entre os dois e 6 horas entre o mesmo medicamento.
  • Limite diário: Nunca ultrapassar a dose total diária recomendada para cada medicamento. Para o paracetamol, não exceder 60 mg/kg/dia em crianças (máximo 4g/dia em adultos). Para o ibuprofeno, não exceder 30-40 mg/kg/dia em crianças (máximo 2.4g/dia em adultos).
  • Utilizar apenas durante o tempo necessário e sob orientação médica, especialmente se a febre persistir mais de 48-72h.

É importante ressaltar que este esquema não é uma regra rígida para todos os casos. Deve ser adaptado às necessidades específicas do paciente e monitorizado cuidadosamente. Além disso, nem todos os quadros de febre requerem medicação. Febre é uma resposta natural do corpo e nem sempre necessita de intervenção, a menos que cause grande desconforto ou esteja associada a outras complicações.

Situações em que se deve evitar o intercalamento:

  • Em bebés com menos de 6 meses, a administração de ibuprofeno deve ser feita com extrema cautela ou evitada, salvo recomendação médica expressa.
  • Em casos de doenças hepáticas ou renais.
  • Quando há dúvidas sobre a dose correta ou se já foram administrados medicamentos com os mesmos princípios ativos sob formas distintas (ex: supositórios e xaropes).

Em todos os casos, o aconselhamento médico deve orientar a administração e o intercalamento dos medicamentos. Este tipo de abordagem deve ser vista como uma estratégia de curto prazo para controlar sintomas, e não como prática frequente ou prolongada.

Dicas adicionais para garantir a segurança:

  • Manter um registo escrito das horas e doses administradas.
  • Utilizar sempre utensílios de dosagem adequados, como seringas doseadoras, evitando colheres caseiras.
  • Conservar os medicamentos fora do alcance das crianças e verificar sempre os prazos de validade.

Em caso de dúvida sobre a administração ou de sinais de sobredosagem — como sonolência excessiva, pele amarelada, vómitos persistentes ou dores abdominais — deve-se procurar ajuda médica imediatamente.

É ainda importante lembrar que os antipiréticos não tratam a causa da febre ou da dor. O acompanhamento clínico, especialmente em situações de infecção ou doença persistente, é essencial para uma recuperação plena.

Em resumo, o intercalamento de Brufen com Benuron pode ser uma estratégia eficaz de controlo de sintomas, desde que feita com conhecimento, responsabilidade e sempre que necessário, com orientação de um profissional de saúde.

Concluindo, intercalar Brufen e Benuron pode ser uma técnica útil para gerir febres ou dores persistentes, sobretudo em contexto pediátrico. A chave está em compreender os mecanismos distintos dos fármacos, respeitar os intervalos de administração e não ultrapassar as doses recomendadas. Embora seja uma prática comum e segura quando corretamente executada, deve sempre ser avaliada caso a caso, tendo em conta o estado clínico do paciente. Procurar orientação médica é indispensável para garantir uma utilização eficaz e segura destes medicamentos tão presentes no quotidiano das famílias portuguesas.