Síndrome do Túnel Cárpico: Doença Profissional e Prevenção

A síndrome do túnel cárpico é uma das doenças profissionais mais comuns nos dias de hoje, afetando cada vez mais trabalhadores em diversas áreas de atividade. Caracteriza-se por uma pressão exercida sobre o nervo mediano, que passa pelo túnel cárpico localizado no punho, provocando sintomas como dor, formigueiro e fraqueza nas mãos. Este problema é particularmente prevalente entre pessoas cujas tarefas envolvem movimentos repetitivos das mãos e punhos, como trabalhadores administrativos, operadores de linha de montagem e profissionais de informática. Neste artigo, vamos explorar em detalhe a relação entre a síndrome do túnel cárpico e a sua classificação como doença profissional, analisando causas, sintomas, prevenção e direitos dos trabalhadores.

O que é a Síndrome do Túnel Cárpico?

A síndrome do túnel cárpico é uma neuropatia periférica causada pela compressão do nervo mediano ao nível do punho. O túnel cárpico é um canal estreito e rígido formado por ossos e ligamentos, por onde passam o nervo mediano e os tendões dos dedos. Quando este túnel sofre um estreitamento, exerce pressão sobre o nervo, originando sintomas desagradáveis que podem comprometer a qualidade de vida do indivíduo.

Os principais sintomas incluem:

  • Formigueiro e dormência nos dedos polegar, indicador, médio e metade do anelar;
  • Dor no punho, que pode irradiar para o braço ou até para o ombro;
  • Fraqueza na mão, dificultando tarefas simples como segurar objetos ou escrever;
  • Sensação de choque elétrico nos dedos afetados.

A sua prevalência é maior entre mulheres entre os 30 e 60 anos, mas pode afetar qualquer pessoa, especialmente aquelas cujas atividades laborais exigem movimentos repetitivos do punho durante longos períodos.

Entre os fatores de risco mais comuns associam-se:

  • Trabalho repetitivo (como digitação, costura, montagem);
  • Postura incorreta das mãos durante a execução de tarefas;
  • Doenças associadas, como diabetes, artrite reumatoide e hipotiroidismo;
  • Gravidez, devido ao inchaço que pode afetar os tecidos do túnel cárpico;
  • Uso contínuo de ferramentas vibratórias.

Embora o diagnóstico possa ser confirmado através de exames como a eletroneuromiografia, a avaliação clínica desempenha um papel essencial. É comum que os sintomas se agravem durante a noite, interferindo com o sono e causando desconforto significativo.

Uma Doença Profissional: Reconhecimento e Prevenção

Nos termos da legislação portuguesa, a síndrome do túnel cárpico pode ser legalmente considerada uma doença profissional desde que se prove uma relação causa-efeito com a atividade laboral exercida. Isto implica que a função desempenhada pelo trabalhador envolva movimentos repetitivos das mãos e que os sintomas tenham surgido ou agravado devido a essas condições.

De acordo com a legislação nacional e com a Lista Nacional de Doenças Profissionais, aprovada pelo Decreto Regulamentar n.º 6/2001, a síndrome do túnel cárpico é uma das doenças neurológicas que pode ser classificada como decorrente do exercício de trabalho. Esta classificação é crucial para garantir o acesso a compensações, tratamentos custeados pela Segurança Social e enquadramento legal adequado.

Para que se reconheça como doença profissional, o trabalhador deve apresentar documentação médica comprovativa, relatórios de exames complementares e, frequentemente, um relatório de medicina do trabalho onde se estabeleça o nexo causal entre a atividade e a patologia.

A prevenção nos locais de trabalho é fundamental. As empresas têm o dever de proteger os seus trabalhadores, adotando medidas de ergonomia, formando os colaboradores e fazendo avaliações regulares dos postos de trabalho. Algumas estratégias de prevenção incluem:

  • Reorganização do posto de trabalho, garantindo que este seja ergonomicamente adequado;
  • Pausas regulares durante o expediente para reduzir o esforço repetitivo;
  • Uso de suportes ergonómicos, como teclados e ratos especiais, ou palmilhas para reduzir o stress no punho;
  • Formação e sensibilização dos trabalhadores sobre os riscos associados;
  • Vigilância médica regular, com exames de rastreio precoce de sintomas neurológicos.

Em casos mais graves ou quando o tratamento conservador não se revela eficaz, pode ser necessário proceder a uma intervenção cirúrgica para libertar o nervo mediano. No entanto, quanto mais cedo for diagnosticada a síndrome, maiores são as probabilidades de recuperação total através de fisioterapia, correção postural e imobilização temporária.

Infelizmente, muitos trabalhadores ignoram os sintomas iniciais ou têm receio de reportar o problema por medo de perderem o emprego. Este comportamento agrava a condição, podendo levar à incapacitação permanente do membro afetado. Daí a importância de uma cultura organizacional que valorize a saúde ocupacional e encoraje a comunicação aberta de queixas físicas.

O acompanhamento multidisciplinar – que deve envolver médico do trabalho, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e, quando necessário, psicólogo – é essencial para uma recuperação efetiva e para o retorno seguro ao trabalho.

Além disso, movimentos sindicais e organizações de defesa dos trabalhadores têm lutado por melhores condições laborais e pelo reconhecimento mais fácil de doenças profissionais como esta, promovendo a justiça social e garantindo que os profissionais afetados não fiquem desamparados durante o tratamento e recuperação.

Em Portugal, todos os trabalhadores que desenvolvam uma doença enquadrada como profissional têm direito ao apoio da Segurança Social, nomeadamente através do subsídio por doença profissional, reabilitação profissional e reencaminhamento para novas funções caso a doença impeça o desempenho da profissão original.

Portanto, é fundamental que tanto empregadores como trabalhadores estejam atentos aos sinais desta patologia e reconheçam a importância de ambientes de trabalho preventivos e inclusivos.

A síndrome do túnel cárpico é mais do que uma simples dor no punho: trata-se de uma condição neurológica com forte ligação ao contexto laboral contemporâneo. O crescente uso de tecnologia, o ritmo acelerado de produção e a mecanização de tarefas aumentam a pressão sobre os membros superiores dos trabalhadores. Ignorá-la é negligenciar uma questão de saúde pública e laboral.

Em suma, a síndrome do túnel cárpico configura-se como uma das doenças profissionais mais relevantes do século XXI, exigindo vigilância, prevenção e reconhecimento tanto por parte das empresas como das entidades reguladoras. Conhecer os sintomas, atuar precocemente e adotar medidas ergonómicas adequadas são passos essenciais para reduzir a sua incidência e impacto.

É assim imperativo continuar a educar, formar e promover ambientes laborais mais seguros, garantindo que os profissionais afetados tenham o apoio e os direitos que merecem para uma recuperação digna e eficaz.