O teste serológico à COVID-19 tornou-se uma ferramenta essencial para compreender a disseminação do vírus, monitorizar a resposta imunológica da população e apoiar decisões de saúde pública. Ao contrário dos testes de diagnóstico que detetam o vírus ativo, a serologia permite identificar se uma pessoa já teve contacto com o SARS-CoV-2, mesmo que tenha sido assintomática. Neste artigo, vamos explorar em detalhe o que é o teste serológico à COVID-19, como funciona, quando deve ser utilizado e qual o seu papel no contexto pandémico, sobretudo em Portugal, onde continua a ser uma ferramenta relevante na luta contra o novo coronavírus.
O que é o teste serológico à COVID-19 e como funciona
O teste serológico à COVID-19, também conhecido como teste de anticorpos, é um exame que deteta a presença de anticorpos específicos no sangue que são produzidos pelo sistema imunitário em resposta à infeção pelo vírus SARS-CoV-2. Estes anticorpos podem indicar que uma pessoa foi exposta ao vírus, tenha ou não desenvolvido sintomas.
Existem dois tipos principais de anticorpos detetáveis através da serologia:
- IgM (Imunoglobulina M): Costuma aparecer nos estágios iniciais da infeção e tende a desaparecer após algumas semanas.
- IgG (Imunoglobulina G): Surge numa fase mais tardia e permanece por mais tempo no organismo, podendo indicar memória imunitária.
Quando uma pessoa realiza um teste serológico, o que os profissionais de saúde procuram no seu sangue são precisamente estes anticorpos. Isto é feito, geralmente, através de uma colheita de sangue venoso, embora também existam testes rápidos que usam apenas uma gota de sangue da ponta do dedo.
Os testes serológicos podem ser quantitativos ou qualitativos:
- Qualitativos: Indicam apenas a presença ou ausência de anticorpos.
- Quantitativos: Medem a concentração dos anticorpos, fornecendo dados mais precisos sobre a resposta imunológica.
A interpretação dos resultados deve ser feita com cuidado. Um teste positivo para IgG, por exemplo, pode significar que a pessoa já esteve infetada e desenvolveu alguma imunidade, mas não garante necessariamente proteção total ou duradoura contra reinfeções.
Por este motivo, os testes serológicos não devem ser utilizados como única base para decisões individuais, como deixar de usar máscara, viajar ou conviver com outras pessoas.
Em Portugal, os testes serológicos foram especialmente úteis em fases iniciais da pandemia para avaliar a seroprevalência, ou seja, a percentagem da população que já tinha contactado com o vírus. Esta informação permitiu orientar políticas de saúde pública, nomeadamente no que diz respeito à vacinação e ao controlo de surtos.
Quando realizar o teste serológico e qual a sua utilidade na pandemia
A realização do teste serológico deve ser indicada consoante o objetivo pretendido. Este tipo de exame não substitui os testes de diagnóstico (como o RT-PCR ou o teste de antigénio), mas complementa-os, oferecendo uma visão retrospetiva sobre a exposição ao vírus por parte do indivíduo.
Os momentos mais apropriados para a realização do teste serológico incluem:
- Após uma infeção suspeita ou confirmada: Dependendo do tempo decorrido desde os sintomas ou contacto, pode-se avaliar se o organismo produziu anticorpos.
- Após vacinação: Para avaliar se o organismo desenvolveu uma resposta imunitária à vacina, embora este uso ainda seja objeto de debate na comunidade científica.
- Estudos epidemiológicos: Para determinar a percentagem da população que teve contacto com o vírus, importante para desenhar estratégias de combate à pandemia.
De acordo com especialistas em imunologia, os anticorpos começam geralmente a ser detetáveis entre 7 a 14 dias após o início dos sintomas, tendo o seu pico por volta da terceira ou quarta semana. Por isso, o teste serológico não é recomendado nos primeiros dias da doença, fase em que o teste diagnóstico (RT-PCR ou antigénio) continua a ser a ferramenta ideal.
A utilidade clínica mais relevante do teste serológico é, portanto, em contexto pós-infeção ou pós-vacinação – e não para diagnóstico precoce. Pode também ser benéfico para pessoas que acham que estiveram expostas ao vírus, mas não tiveram acesso a testes no momento, especialmente durante fases de elevada procura nos picos pandémicos em Portugal.
Outro aspeto importante prende-se com o papel dos testes serológicos na gestão das campanhas de vacinação. Ao identificar indivíduos com anticorpos robustos, pode-se teoricamente avaliar a necessidade de reforços vacinais, embora esse tipo de monitorização individualizada ainda não seja prática comum.
Adicionalmente, alguns estudos indicam que a imunidade híbrida – aquela que resulta da combinação entre infeção natural e vacinação – tende a gerar uma resposta imunitária mais forte e duradoura. O teste serológico, neste contexto, torna-se relevante para aferir a extensão dessa imunidade.
Em crianças e adolescentes, os testes serológicos também foram utilizados em investigações sobre a resposta imunitária e na avaliação da real disseminação do vírus em contextos escolares, algo que ajudou as autoridades portuguesas a tomar decisões quanto à reabertura de escolas.
No entanto, é fundamental compreender as limitações deste tipo de teste. A presença de anticorpos não significa ausência de infecciosidade, e um resultado negativo não exclui totalmente uma infeção recente, especialmente se o teste for feito demasiado cedo.
Outro dado relevante é que certos testes serológicos podem não conseguir distinguir entre anticorpos produzidos devido a uma infeção natural e aqueles gerados pela vacinação, dependendo do tipo de antígeno utilizado no teste.
Estes fatores tornam essencial confiar apenas em laboratórios certificados e profissionais de saúde competentes para a realização e interpretação dos resultados.
Em resumo, o teste serológico continua a ser uma ferramenta útil quando utilizado no momento certo e com o objetivo adequado. Em Portugal, tem permitido melhorar a vigilância epidemiológica e complementar a resposta nacional à pandemia.
O teste serológico à COVID-19 desempenha um papel importante no controlo da pandemia, especialmente como ferramenta de vigilância e avaliação da imunidade pós-infeção e vacinação. Embora não substitua os testes de diagnóstico, oferece informações valiosas quando utilizado em contexto clínico e epidemiológico apropriado. Com o avanço da vacinação e a emergência de novas variantes, a serologia pode continuar a auxiliar na definição de estratégias de saúde pública. É fundamental, no entanto, interpretar os resultados com cautela e apenas com o acompanhamento de profissionais de saúde habilitados, garantindo decisões informadas e seguras para todos.

